top of page

Estratégia, que estratégia?

  • Foto do escritor: Fernando Carvalho
    Fernando Carvalho
  • 1 de ago. de 2021
  • 3 min de leitura

Antes de querer formular ou escolher uma boa estratégia seja para sua carreira ou para sua Organização, penso que existe um passo básico e muito importante - escolher claramente qual o significado você deseja dar para esta palavra - Estratégia.

Esta é uma palavra bonita, que transfere status de inteligência e sabedoria aos que a utilizam em seu discurso. Infelizmente muitas pessoas usam o termo sem saber exatamente o que ele significa. Muitas vezes ele é empregado despretensiosa e até levianamente em frases apenas quando queremos dizer que algo é importante, prioritário.

Gosto muito de um livro de Henry Mintzberg - o Safári da Estratégia*. Não que o livro seja agradável de ler (na verdade, achei bem chato), mas o autor propôs-se a uma tarefa desafiadora: mapear 10 escolas de autores - cada uma com uma visão diferente sobre o que significa o termo estratégia.

E para ilustrar a polêmica conceitual sobre o termo, ele cita uma interessante fábula do folclore Hindu como abertura do capítulo 1. De fato ela demonstra muito bem as posições irredutíveis e convictas, porém incompletas, de cada linha de autores ao apresentar a SUA visão sobre o que é estratégia.



Os Cegos e o elefante

John Godfrey Saxe (1816-1887)


Eram seis homens do Hindustão

Inclinados para aprender muito,

Que foram ver o Elefante

(Embora todos fossem cegos)

Que cada um, por observação,

Poderia satisfazer sua mente.


O Primeiro aproximou-se do Elefante,

E aconteceu de chocar-se

Contra seu amplo e forte lado.

Imediatamente começou a gritar:

“Deus me abençoe, mas o Elefante

É semelhante a um muro”.


O Segundo, pegando na presa,

Gritou, “Oh! O que temos aqui

Tão redondo, liso e pontiagudo?

Para mim isto é muito claro

Esta maravilha de elefante

É muito semelhante a uma lança!”


O Terceiro aproximou-se do animal

E aconteceu de pegar

A sinuosa tromba com suas mãos.

Assim, falou em voz alta:

“Vejo”, disse ele, “o Elefante

É muito parecido com uma cobra!”


O Quarto esticou a mão, ansioso,

E apalpou em torno do joelho.

“Com o que este maravilhoso animal

Se parece é muito fácil”, disse ele:

“Está bem claro que o Elefante

É muito semelhante a uma árvore!”


O Quinto, por acaso, tocou a orelha,

E disse: “Até um cego

Pode dizer com o que ele se parece:

Negue quem puder,

Esta maravilha de Elefante

É muito parecido com um leque!”


O Sexto, mal havia começado

A apalpar o animal,

Pegou na cauda que balançava

E veio ao seu alcance.

“Vejo”, disse ele, “o Elefante

é muito semelhante a uma corda!”


E assim esses homens do Hindustão

Discutiram por muito tempo,

Cada um com sua opinião,

Excessivamente rígida e forte.

Embora cada um estivesse, em parte, certo,

Todos estavam errados!


As dez escolas de autores agrupados por Mintzberg e seus colegas são muito bem exemplificadas por estes cegos. Cada escola entendendo que sua ótica sobre a estratégia é a única e correta. Evidentemente, o uso da fábula é para explicar que o "animal" estratégia é muito maior do que um único ser humano, ou mesmo um único grupo de autores consiga capturar.

Portanto, antes de usar o termo estratégia (e você deve usá-lo!), pense bem sobre o que você pretende comunicar com ele. A qual das escolas de estratégia você está mais alinhado, afinal, de que pedaço do "bicho" você está falando?

Muitas vezes, os chefes exigem de seus funcionários: "Seja mais estratégico!", mas sou capaz de apostar que nem pra eles está claro o que isto significa. Evidentemente, há grandes chances desta exigência não ser bem atendida e por fim haver frustração tanto pro chefe quanto pro funcionário (e sua carreira). Mas isto já é um tema para tratarmos em outro post.


*MINTZBERG, Henry; AHLSTRAND, Bruce e LAMPEL, Joseph. Safári de Estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2010, 2a. ed.


Gostou do conteúdo? Fique à vontade para compartilhar usando os botões abaixo

Comentários


bottom of page