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O Porquê do Monge

  • Foto do escritor: Fernando Carvalho
    Fernando Carvalho
  • 16 de jul. de 2021
  • 8 min de leitura

Atualizado: 22 de jul. de 2021

Destaques

  • Liderança começa pelo respeito e por ouvir os outros

  • Não são as coisas materiais que nos trazem alegria na vida

  • A hierarquia de comando e controle deveria ser substituída pela hierarquia da liderança.

  • O maior líder é aquele que serve mais

  • A boca fala do que está cheio o coração

RESUMO

Este artigo procura promover uma “conversa” entre dois autores muito importantes no campo da liderança: James Hunter e Simon Sinek. Ambos tratam temas fundamentais e seus dois livros principais (O Monge e o Executivo e Comece pelo Porquê) tem vários conceitos de liderança em comum. No texto serão apresentados estes principais conceitos na ótica da liderança pessoal tratados por cada autor e posteriormente uma comparação entre eles.

Palavras-chave: Liderança, Propósito

Público-alvo: pessoas que queiram desenvolver-se em sua competência de liderança


INTRODUÇÃO

Por que nossos clientes são nossos clientes?

Por que nossos funcionários são nossos funcionários?

Como podemos conquistar mais autoridade para exercer nossa liderança?

Estas são perguntas que deveriam incomodar diariamente e fazer pensar todos aqueles que buscam o desenvolvimento de suas aptidões como líderes na empresa, na família e nas comunidades das quais participam.

Neste artigo, procuraremos tomar dois autores exponenciais no campo da liderança: James Hunter e Simon Sinek, e comparar conceitos citados por eles em suas obras de referência (O Monge e o Executivo e Comece pelo Porquê, respectivamente). Para isto, usaremos a abordagem metodológica da leitura analítica (ADLER: 2010).

Faremos uma breve síntese de cada uma das obras, destacando os aspectos que mais nos chamaram a atenção em relação aos conceitos de liderança. Depois, vamos comparar os dois livros, destacando o que há em comum entre eles.


Comece pelo Porquê

Comece pelo Porquê. Este é o título do excelente livro de Simon Sinek, recomendado por inúmeros especialistas em liderança. Procuraremos destacar algumas das ideias centrais desta obra, visando compará-las posteriormente à abordagem de liderança feita por James Hunter.

Fazendo uma síntese do livro, poderíamos dizer que o autor trata sobre a capacidade que certas pessoas demonstram em conseguir inspirar outras. Síntese que já nos é apresentada no subtítulo de capa. Sinek associa a capacidade de liderança a este potencial inspirador que gera movimento em direção à ação, sentimento de propósito e de pertencimento.

Como modelo geral de seu argumento, Sinek apresenta seu Círculo Dourado (Fig. 1), em que defende o conceito de que o “O Quê” (ações e evidências externas) derivam do “Como” (atitudes e forma de fazer), que por sua vez devem vir de um “Por quê” (propósito) inspirador e poderoso. Esta abordagem é aplicável tanto a indivíduos quanto a organizações, mas neste estudo nos restringiremos à sua aplicação à liderança pessoal.

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Figura 1 – O círculo dourado (SINEK: 2018, página )


Neste sentido, o autor demonstra que a fidelidade vem da confiança e a confiança emerge da crença no Por quê: “A confiança começa a surgir quando temos a sensação de que a outra pessoa ou organização é movida por outras coisas que não seu próprio ganho” (SINEK: 2018). Ele enfatiza a importância da consistência entre o que cremos e o que fazemos. Aliás, esta não é exatamente uma ideia nova. O mestre Jesus já ensinava há aproximadamente 2.000 anos: “A boca fala do que está cheio o coração” – Evangelho de Lucas 6:45. (BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA: 2009).

Esta coerência comportamental é que dá ao líder a áurea e integridade, o que lhe confere autoridade real para exercer influência. Evidentemente, o autor não está referindo-se aqui à autoridade conferida por cargo ou posição hierárquica. Seu interesse está na autoridade real do líder que faz o que fala e que, com isto, tem o privilégio de influenciar outros ao seu redor. Este tipo de líder, quando presente numa organização, aumentará a capacidade dela em atrair pessoas:

Empresas com um forte senso do PORQUÊ são capazes de inspirar seus funcionários. Esses funcionários são mais produtivos e inovadores, e o espírito com que executam o trabalho atrai outras pessoas, ansiosas por trabalhar lá também. Não é muito difícil perceber por que as companhias com as quais gostamos de fazer negócios são também as melhores empregadoras. Quando os funcionários sabem POR QUE saem de casa para trabalhar, é muito maior a probabilidade de que as pessoas de fora compreendam POR QUE essa empresa é especial. Nessas organizações, da direção até a base, ninguém é mais ou menos valorizado do que qualquer outro. Todos precisam uns dos outros. (SINEK: 2018, página 108)

É muito interessante que o autor, quando fala da liderança empresarial, defenda a ideia de que a companhia tenha que servir àqueles (clientes e funcionários) que ela quer que lhe sirvam. E como exemplo de líderes servidores e inspiradores cita lendas da história corporativa e civil americana e mundial como: Martin Luther King Jr., Sam Walton, Bill Gates e Steve Jobs. Homens que não só demonstraram ter um PORQUE poderoso, como também foram capazes de influenciar suas próprias organizações e milhões de outras pessoas.

Outro aspecto muito interessante que SINEK destaca no comportamento do líder, é a comunicação. Mas, ao contrário do que muitos marqueteiros pessoais possam imaginar, ele enfatiza a capacidade de ouvir. Falar do PORQUE é importante, mas não do COMO ou do O QUE. E falar do PORQUE não é tão simples pois tem raízes profundas com crenças, valores e sentimentos que nem sempre são facilmente expressos em palavras.

O Monge e o Executivo

James Hunter criou uma história envolvente e tocante para todos aqueles que já se depararam com suas dúvidas na atuação como líderes. A narrativa é fácil e os conceitos vão emergindo naturalmente das profundas e proveitosas discussões de um grupo de líderes empresariais que participam de um retiro num mosteiro às margens do lago Michigan. Um dos personagens principais é John Daily (talvez o sobrenome seja uma sutil referência aos cuidados excessivos com nossas rotinas do dia-a-dia). Ele é um executivo que vem tendo problemas com seu desempenho na empresa e na família. Quem faz a dupla de protagonistas com o Executivo é um monge chamado Irmão Simeão. Ele é ninguém menos do que Leonard Hoffman, um ex executivo de grande sucesso no mundo empresarial e que agora, recolhido ao mosteiro, passa a ensinar o grupo sobre os fundamentos da liderança e a ajudar John a questionar-se sobre suas convicções e propósito.

É curioso que uma das primeiras lições que John aprende é logo na primeira manhã do retiro, na hora das apresentações. Todos os participantes devem fazer uma breve apresentação sobre suas trajetórias e os motivos (PORQUÊ) de terem procurado o retiro. Quando chega a vez de John, Simeão o interrompe e pede que cite algo sobre a apresentação de uma outra colega de classe, que acabara de falar. Envergonhado, John tem que admitir que não prestara atenção a nada do que havia sido dito.

Lição 1: liderança começa pelo respeito e por ouvir os outros. O ego do Executivo começa, pouco a pouco, a ser implodido por uma influência amorosa e sábia do Monge. Os princípios de liderança “são tão velhos quanto as escrituras e, no entanto, são novos e revigorantes como o nascer do Sol desta manhã” (HUNTER: 2004), ensina Simeão.

Além de tudo o livro de Hunter é uma aula de facilitação e andragogia (ciência que estuda como os adultos aprendem) ao descrever como Simeão vai organizando a conversa do grupo e vai construindo os conceitos com a participação de todos. Um deles (talvez o mais importante) é a definição de liderança: “habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir os objetivos identificados como sendo para o bem comum” (HUNTER: 2004).

Ao mesmo tempo em que Simeão vai ensinando princípios gerais ao grupo de alunos, também vai ajudando John a questionar-se sobre seus valores. Numa de suas primeiras conversas, traz à luz a

Lição 2: não são as coisas materiais que nos trazem alegria na vida. Esta conversa será fundamental na transformação que se opera neste Executivo durante o retiro.

Pela boca de Simeão, Hunter defende um novo paradigma de hierarquia empresarial (fig. 2). Este é um dos principais conceitos do livro: a ideia de liderança servidora – a ideia de que, numa organização, o líder deve servir a seus liderados a fim de que, ao final, o cliente seja servido pela empresa. Qualquer semelhança com a ideia de centralidade no cliente não será mera coincidência.

Lição 3: A hierarquia de comando e controle deveria ser substituída pela hierarquia da liderança.

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Figura 2 – Novo paradigma (HUNTER: 2004, página 50)


Mas, para que esta inversão possa ser estabelecida, Hunter defende uma outra pirâmide invertida: a da liderança (Fig 3). E a base dela é a vontade (intenções mais ações). Neste ponto ele afirma que somente quando nossas ações estiverem de acordo com nossas intenções é que nos tornamos pessoas harmoniosas e líderes coerentes. Esta, segundo ele, é a chave para podermos liderar com autoridade.

Lição 4: O maior líder é aquele que serve mais. Aliás, neste ponto, há mais uma referência de Hunter aos antigos mas muito atuais ensinos das Escrituras: “Se alguém quer ser o primeiro, deve ficar em último lugar e servir a todos” – Marcos 9:35 (Bíblia Sagrada: 2013).

Por fim, Hunter enumera alguns atributos fundamentais para uma liderança de valor: paciência, bondade, humildade, respeito, abnegação, perdão, honestidade, compromisso, serviço e sacrifício. Ele também enfatiza que a recompensa de uma boa liderança é a alegria e felicidade das pessoas.

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Figura 3 – Novo paradigma de liderança (HUNTER: 2004, página 70)


Análise comparada

Simon Sinek não cita James Hunter em seu livro, mas nos parece evidente que tenha bebido desta fonte para construção de algumas ideias que propõe. Procuraremos destacar a seguir os principais conceitos próximos ou similares citados nos dois livros:

A) Comunicação – ambos destacam a importância do ouvir para a comunicação do líder

B) Influência – para os dois autores, a capacidade de influência é um dos principais atributos do líder. E, diga-se de passagem, influência para o benefício do grupo liderado.

C) Coerência entre prática e discurso – autoridade da liderança advém desta integridade

D) Finalidade – ambos os autores deixam claro que a liderança saudável deve buscar propósitos que vão muito além de desejos materiais passageiros

E) Propósito – o mover das ações e atitudes da liderança advém daquilo que a pessoa admite como valioso em seus valores pessoais. Para transformar a liderança, é necessário transformar seus valores.


CONCLUSÃO

Há muitos pontos de similaridade entre a forma como James Hunter e Simon Sinek desenvolvem seus conceitos de liderança. Neste pequeno artigo demos maior ênfase aos aspectos da liderança pessoal e não exploramos as implicações organizacionais, que poderão ser desenvolvidas em futuros trabalhos. Evidentemente, a leitura (ou releitura) de ambos os livros poderá ser feita sob esta ótica comparativa, o que certamente enriquecerá a reflexão do leitor sobre o tema da liderança.

Como recomendação, fica a sugestão de Sinek e de Hunter de que todos nós escavemos e descubramos nossos propósitos. Sem este passo inicial, a jornada de desenvolvimento da liderança será muito mais difícil e talvez não consigamos deixar o legado positivo desejado por todos. E para quem estiver no início desta jornada e precisar de alguma dica por onde começar, deixamos a resposta dos reformadores reunidos em Westminster a esta questão tão vital para a humanidade: Qual é o fim (propósito) supremo e principal do homem? Resposta: “O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre” (VOS: 2007). Soli Deo Gloria.


REFERÊNCIAS

ADLER, Mortimer J. & DOREN, Charles Van. Como ler livros: o guia clássico para a leitura inteligente. São Pualo: É Realizações, 2010.

Bíblia de Estudo de Genebra. 2. Ed. Barueri, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

Bíbllia Sagrada: Nova tradução na Linguagem de Hoje. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013.

HUNTER, James. O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.

SINEK, Simon. Comece pelo porquê: como grandes líderes inspiram pessoas e equipes a agir. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.

VOS, Johannes Geerhardus. Catecismo maior de Westminster comentado. São Paulo: Os Puritanos, 2007.


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